sexta-feira, novembro 17, 2006

Estudantes: fechem o governo a cadeado, por favor

Parece que a direcção regional de educação (assim mesmo, com minúsculas) de Lisboa quer que os alunos que fechem escolas a cadeado sejam identificados e punidos. Ao diabo com o politicamente correcto: se isto fosse feito em ditadura chamava-se repressão; assim é uma medida justa para assegurar o cumprimentos das regras de um estado democrático. Eu acho que é inaceitável. Não é esta a sociedade em que eu quero viver. E já agora, o que pensam sobre os piquetes de greve? E as manifestações que provocam o corte de ruas e estradas? Também são para acabar? Vamos proibir as greves que causam incómodo? Provavelmente vontade para isso não falta...

8 comentários:

perreira disse...

Greves so estao legal entre 12:00 e 12:30. Por favor nao incomodam ninguem, so usam papel reciclado para cartazes e voltam ao trabalho depois.

Para Manifestacoes vai haver um espaco especial, equipado com equipamento da TV por monitorar os participantes^H^H^H por ajudar os manifestantes de passar ao publico a mesagem. Limpeza nao incluido.

Universidades e escolas vao ser fechados porque so geram os chatos que sempre refilam e pensam. Isso nao queremos.

nuno disse...

Infelizmente, acho que a ideia é manter a universidade aberta (embora, no caso de portugal, sem dinheiro para pagar salários), mas só aceitar quem não refila... Ou pelo menos chamar a polícia quando refilam, como faz o nosso magnífico reitor...

Ze&Jose disse...

pois, eu devo estar a tornar-me num reaccionário cada vez maior, mas realmente não acredito que ter liberdade para trancar portas a cadeado seja uma liberdade importante... e a democaracia, enquanto não for contra direitos fundamentais, significa que tens aceitar as decisões de uma maioria, ainda que não te revejas nela.. e isto não é ser simplesmente politicamente correcto, é ser correcto, não se pode aceitar que uma sociedade que se queira justa viva ao sabor de chantagens (por muito poéticas que elas sejam) de minorias, sejam elas grupos estudantis, sindicatos ou corporações.wo

nuno disse...

Pois... deves estar...

A razão porque me chocam estas medidas é bem mais profunda do que concordar ou não que se possam fechar portas a cadeados (e já agora, porque não, se o ministério pode cometer todo o tipo de ilegalidades: desde fazer pressão sobre as escolas para identificarem os grevistas até tentar aprovar um diploma manifestamente inconstitucional em que se estabelece que que faltar por greve, maternidade ou outras razões impede a progressão na carreira). O que me preocupa acima de tudo, é estarmos a educar uma geração passiva que vai achar que a contestação é ilegal. E já agora, o que são os direitos fundamentais para ti? Para mim, o direito à contestação e à não repressão política está entre eles.

Ze&Jose disse...

acho que existem uinumeras formas de nao passividade que certamente não passam por trancar portas a cadeado mas por ser agente transformador seja através da consciencialização das pessoas à tua volta, seja por participação em partidos associações, grupos de discussão e por aí fora, participação e cidadania não passam por trancar portas. O direito à contestação, concordo, é um direito fundamental, assim com o normal funcionamento das instituições e o trabalho de uma maioria que não está de acordo com o teu pensamento.. portanto, ou bem que convertes a maioria, ou então tens que aceitar o direito destes..

nuno disse...

Muito raras foram as transformações importantes ao longo da história que se fizeram no quadro normal de funcionamento das instituições. Neste ponto sou Darwinista: mesmo que estejamos convencidos de que um determinado modelo de organização social é o melhor, devemos prever formas de escape desse modelo. Só assim se preserva a diversidade e se assegura a sobrevivência. Se cumprisses cegamente as leis, ainda terias a constituição do estado novo, as leis americanas de segregação racial ou o partido comunista soviético como partido único em vigor (só para dar alguns exemplos). Já agora: toda a gente acha normal que se perca um dia de trabalho (independentemente da vontade individual) quando um ministro visita uma escola, no dia da defesa nacional ou noutra qualquer questão oficial. Eu só peço o mesmo quando há pessoas descontentes com questões que consideram importantes.

Mas, de qualquer forma, obrigado por estares a participar na conversa. És sempre bem-vindo!

Ze&Jose disse...

"Ignorance more frequently begets confidence than does knowledge: it is those who know little, and not those who know much, who so positively assert that this or that problem will never be solved by science (democracy)."Charles Darwin, parentisis meu, só para descontextualizar.

Voltando à discussão, comparar estas "lutinhas" a questões raciais ou sistemas ditaduriais é claramente abusivo/demagógico, é tudo uma questão de proporcionalidade, não faz sentido banalizarmos formas de luta fortes com questões que não o são. E se acho que os nossos amigos estudantes têm todo o direito de não gostar que a universidade decida por uma propina máxima, acho que o reitor tem todo o direito de tentar garantir que uma reunião, para a qual os estudantes estão convocados, se possa realizar.

nuno disse...

Acho que não há muito a fazer: neste ponto temos visões do mundo demasiado diferentes. Eu, por mim, valorizo mais as consequências de uma politica de propinas do que o direito a haver (ou não) uma determinada reunião do senado. Tal como, suspeito, também hão-de achar os professores universitários quando os seus salários estiverem em risco. A democracia, para mim, deve ser algo que se vive e exerce activamente e não um método formal destinado a manter o status quo. Quanto à demagogia, é (como dizia o Herman) como as opiniões: cada um tem a sua e quando quer dá-la, dá-la... Ou seja, também podia retribuir a classificação à tua argumentação: eu não comparei os protestos dos estudantes do secundário a nenhum dos exemplos que dei. Apenas afirmei que muito poucas mudanças importantes foram feitas dentro dos esquemas institucionais vigentes.